comé isso.



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Joana morava num pequeno apartamento que ficava no meio da rua sem nome e num edifício que não tinha nome. ela já havia perdido as contas de quanto tempo já fazia daquele lugar sua morada, porque lar era uma palavra tão significativa que ela tinha receio de usar e se arrepender. mas o comodismo impedia qualquer ideia de mudança, imagina arriscar sair dali e se tornar uma sem teto? melhor um lugar qualquer do que lugar nenhum. todos os dias eram sempre os mesmo, a mesma vizinhança, o mesmo mercado, a mesma moça aborrecida no caixa e o zelador do prédio que fazia questão de não notá-la. a vida seguia e Joana já tinha desisto até de reclamar de sua situação, porque todos sempre perguntavam a mesma coisa: por que não se muda? mas Joana tinha um apego tremendo por aquele apartamento, atualmente ele não era o melhor lugar do mundo, mas já tinha sido recinto de muitas histórias e lembranças doces. apenas ela sabia o que aquelas paredes guardavam de segredo, aquelas paredes por muito tempo foram seu abrigo e porto. como ela ousaria a pensar em abandonar tudo e correr atrás de um imóvel fosse ele novo ou então usado por estranhos?
(...)

meta fora.




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a vida vai seguindo de boas na lagoa, num marasmo e comodismo tão grande que nenhuma marola é avistada por dias. então ... começa a rolar uma tempestade no nosso copo d'água e a açúcar que tinha se afogado no fundo se agita e salga a água, fazendo com que não haja ingestão e só obrigação. a luz no fim do túnel é realmente um trem, que vem em velocidade máxima e só há espaço para duas decisões: sobreviver ou viver. pra alguns não há diferença, mas quando você só escolhe sobreviver, qualquer tremor será visto como um terremoto de grande escala e todos seus sensores de é-o-fim estarão constantemente ligados, te tornando uma pessoa paranoica e hipocondríaca. já tem outros que escolhem viver, viver como se estivessem nascendo de novo e recebendo de volta fichas novas e dados não viciados. fazem valer a reconquista do sabor daquela lagoa azul.