um pouquinho mais.


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às vezes, eu me leio e fico espantada de como eu consigo me fazer entender por meio das palavras. às vezes, eu me leio e fico agradecida por ter me dado oportunidade de expandir os pensamentos para além do meu próprio umbigo. às vezes, eu me leio e me pergunto como ainda não perceberam que eu sou uma grande fraude. às vezes, eu me leio e questiono onde eu poderia ter ido se o medo não tivesse me paralisado. às vezes, eu me leio e percebo que ainda mantenho algumas manias (vide o ponto no início e as letras minúsculas). às vezes, eu me leio e eu queria que tivesse mais pra ler. 

to run.



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o último radar ficou para trás, agora posso acelerar o quanto eu quiser e o carro aguentar. o velocímetro começa a girar, saindo do limite de 80km/h e indo em direção a casa de três dígitos. a reta é curta e em apenas alguns metros uma curva acentuada me aguarda. mas e se eu quiser ir reto, me encontrar com a mureta e deixar que ela conduza o destino final. quantas voltas no ar eu consigo antes de cair de casco ao contrário? será que o barulho seria alto suficiente para silenciar minha mente fervilhante? é suficiente para acabar com toda essa dor e insatisfação internalizada após tantos "quase" que a vida sempre ofereceu? estou quase lá, preciso me decidir. posso ouvir o silêncio e piso mais fundo no acelerador. faço a curva e agradeço pelos motivos que me ajudaram escolher aguentar um pouco mais.  

até aqui.

 


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qualquer amor serve quando se nasce em um lar disfuncional e desorganizado. qualquer amor serve quando abusos são parte do seu cotidiano. qualquer amor serve quando qualquer queixa é vista como manifestação de ingratidão. qualquer amor serve quando se cresce tendo todos os sentimentos invalidados. qualquer amor serve quando o silêncio é a única opção possível de te proteger das agressões disfarçadas de ensinamentos. qualquer amor serve quando seu histórico é marcado por abandono e negligência. qualquer amor serve quando você não quer ficar a sós com seus próprios pensamentos. qualquer amor serve quando não se sabe do que você realmente precisa.  qualquer amor serve quando você acredita nas mentiras de finais felizes. qualquer amor serve até você mandar todos tomarem no centro da tarraqueta do cu.

in for túnel.


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não direi que o chão se abriu, pois o mesmo já nem existia. dizem que desgraça pouca é bobagem, por isso sinto que minha vida é uma avalanche atrás da outra e o que me resta são breves intervalos para recuperar o fôlego. eu já cheguei até cogitar que não sei ser feliz, estou sempre alerta para o próximo baque e isso não é pessimismo é só a minha realidade. talvez seja pra combinar com a minha áurea melancólica, que se agarra em qualquer bote de sofrimento. autossabotagem sempre foi uma especialidade da casa, mas parece que a cada fase eu me torno mais especialista no assunto. os alertas de gatilhos são convites irrecusáveis, mesmo sabendo que irei sentir a alma se despedaçar mais um pouco, eu aceito. será que é porque me sinto acolhida na desgraça alheia? àquela coisa de se sentir pertencente, mesmo que seja no clube-dos-fodidos-ponto-com. a barragem de fio de palha que segurava todas as minhas lágrimas foi rompida, não existe saco lacrimal que seja capaz de conter toda comitiva de sentimentos que me transbordam. é cansaço. é desilusão. é recomeço. é revolta. é desânimo. é saudade. é esperança. é amor. é ansiedade. é alegria. é vergonha. é inveja. é tédio. (é tantos outros que já deu pra entender, né mesmo?). não é a primeira constatação e nem será a última. enquanto houver fôlego irei seguir a trilha das desgraças existências e sei que não estarei só.