há manhã.



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é hora de ir pra cama, mas Anita não perde a vontade de escrever.
 há cerca de seis anos e alguns meses-não-lembrados ela conheceu Antônio e desde então ela lhe remete cartas com várias páginas. o encontro aconteceu enquanto ela esperava o chá e ele ocupava a única mesa com cadeira sobrando, ela se aproximou e sentou, sem cerimônia ou educação. Antônio morava há três cidades de Anita e ainda sim só a encontrava depois de trinta cartas trocadas, pois fazia parte do acordo que eles assinaram logo no primeiro encontro. Antônio não queria mulher alguma na sua porta e muito menos na sua cama, dizia que seu quarto era o seu santuário e seu reino. Anita não curtia andar de mãos dadas e nem queria gente lhe olhando antes mesmo dela conferir o bafo matinal. o relacionamento não sobrevivia, ele acontecia. o amor só foi ser percebido depois da centésima-nona carta, quando Anita ao invés de escrever sete páginas - como de costume -, só escreveu o nome dela junto com o de Antônio e fez um coração. ao abrir o envelope, Antônio sorriu com os olhos e fez algo proibido, ao ligar pra ela e cantarolar uma música de ninar - é, ligações também eram vetadas, não queriam a frustração de nenhuma ligação perdida ou então perder a hora do sono porque o outro havia esquecido de ligar.
 seguiam suas próprias regras, não ultrapassavam seus limites, obedeciam cegamente o fluxo do sucesso, até que o telefone de Anita tocou às 23:59 e uma voz do outro lado disse:
- o amanhã vem aí e quero que você venha junto.
Anita parou de escrever, rasgou as que já tinha escrito e desligou.
(...)

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